
Ex-vice-presidente de Gaia nega suborno e afirma que relógios recebidos eram “prendas de Natal”
28/01/2025Patrocínio Azevedo, antigo vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, garantiu esta terça-feira, durante a quarta audiência do julgamento no Tribunal de Vila Nova de Gaia, que os três relógios que recebeu do advogado João Lopes, também arguido no processo, eram “prendas de Natal” e não subornos. O caso insere-se na Operação Babel, que investiga alegadas irregularidades em processos de licenciamento urbanístico no município.
Azevedo confirmou ter recebido três relógios em 2019, 2020 e 2021, mas negou ter recebido um quarto relógio em 2022, como alegado pela acusação. “Recebi os relógios como prenda de Natal, sempre na véspera de Natal, mas nunca valorizei o seu valor”, afirmou o ex-autarca, acrescentando que não consegue identificar atualmente as marcas ou o valor dos relógios.
A Operação Babel, que envolve 16 arguidos, incluindo Azevedo, os empresários imobiliários Paulo Malafaia e Elad Dror, fundador do grupo Fortera, e o advogado João Lopes, investiga crimes económicos como corrupção e tráfico de influências. O Ministério Público (MP) alega que Azevedo teria recebido dinheiro e bens materiais, como relógios, em troca de favorecimento em projetos imobiliários, incluindo o Skyline/Centro Cultural e de Congressos, o Riverside e o Hotel Azul.
Questionado pelo advogado de defesa de Elad Dror, Azevedo reiterou que os relógios foram oferecidos pelo advogado João Lopes como prendas de Natal e que nunca condicionaram as suas decisões. “Pode parecer estranho, mas não valorizei os relógios. Dava mais valor a uma garrafa de vinho ou a um convite para comer um arroz de cabidela”, afirmou.
O ex-vice-presidente explicou ainda que devolveu os relógios a João Lopes em meados de 2022, após alguém lhe sugerir que os objetos poderiam ter algum valor. “Não me senti confortável e decidi devolvê-los”, disse, sublinhando que nunca pediu nem recebeu dinheiro de nenhum dos arguidos envolvidos no processo.
A presidente do coletivo de juízes questionou Azevedo sobre o motivo pelo qual João Lopes lhe teria oferecido os relógios. O ex-autarca respondeu que o advogado tinha algum envolvimento com o município e que era comum receber prendas de Natal de entidades como paróquias ou bombeiros.
O julgamento continua, com o Ministério Público a sustentar que os relógios e outros benefícios teriam sido oferecidos como contrapartida por decisões favoráveis em processos de licenciamento urbanístico. Azevedo, por sua vez, mantém a sua defesa, afirmando que as ofertas não influenciaram as suas ações enquanto vice-presidente da autarquia.
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