O quartel dos Bombeiros Voluntários do Porto, no centro da cidade, está fechado por ordem da direção, situação que deve repetir-se aos fins de semana e feriados por falta de pessoal para apoio à central telefónica, disse uma voluntária.
Em declarações à agência Lusa, Iva Bessa contou que a direção que tomou posse há três anos “mandou fechar os portões do quartel e fechar a central, permanecer assim até às 08:00, e está a transferir as chamadas de emergência para um civil”.
A bombeira, uma de um total de 13 voluntários que decidiram concentrar-se à porta do quartel esta manhã, descreveu uma situação que se tem vindo a arrastar-se no tempo e fez críticas à direção da corporação.
“Há um ano a direção demitiu os centralistas e não meteu ninguém. Depois contrataram uma empresa de portaria para assegurar a central. A empresa foi embora no dia 01 de junho por falta de pagamentos. A central tem sido assegurada pelos voluntários, mas também temos vida própria e a nossa principal vocação é o auxílio no terreno, e isto não pode continuar quando há assalariados na instituição. Então, a direção avisou o comando por email que nos fins de semana e dias feriados não há central e o quartel ficou ao abandono”, descreveu.
Voluntária há 13 anos, Iva Bessa culpa a direção pelo arrastar desta situação, diz que os voluntários estão “de pés e mãos atados” e que o “socorro ao povo portuense fica comprometido”.
“Exigimos a demissão desta direção que está a afundar uma instituição fundada há 147 anos”, acrescentou, lamentando que os bombeiros voluntários estejam “inibidos de fazer a emergência e de poder dar o seu contributo à comunidade”.
A agência Lusa contactou o presidente da direção da Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Porto, Gustavo Pereira Barroco, mas até ao momento não obteve resposta.
A situação foi, entretanto, comunicada ao comandante distrital de operações de socorro, à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, à Liga dos Bombeiros Portugueses, bem como ao comandante do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, corporação que agora está a receber as chamadas de emergência da central dos Voluntários do Porto.
Viaturas oferecidas e em bom estado abatidas
O membro da direção dos Bombeiros Voluntários do Porto José Robalinho denunciou hoje à Lusa que o presidente daquela corporação, Gustavo Barroco, mandou abater duas viaturas oferecidas que “estavam boas para o serviço”.
“Dois carros que nos foram oferecidos por outras corporações de bombeiros e que estavam bons para o serviço foram mandados abater pelo presidente da direção para tentar fazer dinheiro”, disse.
Afirmando “não ter sido consultado” sobre nenhuma das decisões, José Robalinho recorda-se que a primeira viatura, então oferecida pelos Bombeiros de Campo de Ourique, foi abatida há mais de um ano “e rendeu pouco mais de mil euros”.
“A segunda foi há cerca de duas semanas. Era um Volvo, tinha 30 mil quilómetros e estava estacionado nos Bombeiros Portuenses depois de nos ter sido oferecido pelo Batalhão de Bombeiros Sapadores do Porto, para ser transformado num autotanque”, contou o dirigente, afastado das reuniões da direção desde 2021.
Questionado pela Lusa se tinha conhecimento das dívidas da associação revelou que em setembro de 2020 pediu para fazer essa consulta, mas as “únicas contas que mostraram eram de débitos à associação e totalizavam 187 mil euros”.
“Fui perguntar aos devedores e mostraram-me que não era verdade. Se me pergunta onde está esse dinheiro, respondo que não sei, como nunca soube se associação devia dinheiro a alguém, porque nunca me mostraram”, acrescentou José Robalinho.
A Lusa tentou uma reação de Gustavo Barroco, mas até ao momento não foi possível.