Manuscritos medievais regressam ao público no novo núcleo do Museu do Porto

Manuscritos medievais regressam ao público no novo núcleo do Museu do Porto

22/02/2025 0 Por Rmetropolitana

Vinte e cinco anos depois, um conjunto raro de códices medievais volta a estar acessível ao público. A exposição Revelação – Manuscritos Sagrados de Santa Cruz de Coimbra inaugura o novo núcleo do Museu do Porto, situado no edifício da Alfândega, e traz a público 27 manuscritos que integravam a Livraria de Mão do antigo Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Trata-se de uma exposição intimista e singular, patente até abril.

Esta iniciativa insere-se num programa mais amplo que visa minimizar o impacto do encerramento temporário da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP), atualmente em requalificação e ampliação, num projeto assinado pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura. Enquanto decorrem as obras, a oferta bibliográfica será descentralizada, passando a estar acessível na Biblioteca Municipal Almeida Garrett e através da rede de Bibliotecas Errantes.

Na inauguração, o presidente da Câmara do Porto destacou a importância desta exposição para manter vivo o vínculo da cidade à sua biblioteca. “O encerramento de uma biblioteca, mesmo que temporário e por uma causa justificada, representa sempre uma perda para a vida cultural de uma cidade. A comunidade fica privada do contacto com os livros e do acesso a um património que lhe pertence”, afirmou Rui Moreira. Para mitigar essa ausência, garantiu que, durante o período de obras, os fundos históricos e coleções valiosas da BPMP serão disponibilizados ao público, tal como aconteceu em 2016 com a mostra 100 Tesouros da Biblioteca Pública do Porto, na Galeria Municipal.

Revelação é a primeira exposição do novo núcleo do Museu do Porto, que encontra na Alfândega um “lugar de memória”. O espaço foi pensado para articular património histórico e cultura contemporânea, tornando-se um ponto de ligação entre passado, presente e futuro.

Com curadoria de Rita Roque e Jorge Sobrado e consultoria científica de José Meirinhos, a exposição reúne 27 códices de um universo de 97 manuscritos que oferecem um mergulho na espiritualidade medieval e monástica. Estes documentos testemunham séculos de práticas de leitura, escrita e transmissão de conhecimento.

A curadora Rita Roque descreveu a mostra como “uma exposição díptica, entre a revelação e a meditação, a contemplação e o exercício de cópia, entre a escala e a escrita, entre o Latim e o Português, mas também o Hebraico, entre o azul e o vermelho, entre as vibrações e os reflexos, o divino e o profano, a cidade e o rio”. Já Jorge Sobrado sublinhou a relevância deste acervo para o património nacional, destacando que esta exposição permite não só redescobrir um conjunto valioso de manuscritos, mas também aprofundar o conhecimento sobre diferentes camadas da história e identidade da cidade.

A mostra organiza-se em cinco núcleos expositivos – Bíblia, Doutrina Sagrada, Leituras do Ofício Divino, Saltérios, Costumeiro e História do Mosteiro – e conta ainda com uma paisagem sonora original criada pela harpista Angélica Salvi, especificamente para os cerca de mil metros quadrados da exposição. Além disso, inclui uma oficina de escrita que recria um Scriptorium medieval, orientada pelo artista/copista Tiago Rodrigues. A inauguração da exposição foi precedida por uma performance musical de Angélica Salvi.

A entrada na exposição Revelação é gratuita e pode ser visitada de terça a domingo, das 10h00 às 17h30, no Núcleo do Museu do Porto, no edifício da Alfândega, até ao dia 25 de abril.

Foto: DR – Andreia Merca

Notícia desenvolvida por: Bruna Rebelo