Nuno Ribeiro, ex-diretor desportivo da equipa de ciclismo W52-FC Porto, revelou esta segunda-feira, em julgamento, que o uso de doping era uma prática constante no seio da equipa, financiada e incentivada pelo antigo proprietário, Adriano Quintanilha, a quem chamou de “mestre da manipulação”.
O testemunho foi dado no âmbito do julgamento da operação Prova Limpa, com 26 arguidos, que decorre num pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira. Nuno Ribeiro pediu para prestar declarações sem a presença dos outros arguidos, justificando estar sob “pressões e ameaças”, incluindo de Adriano Quintanilha.
“Fui um fraco por ceder”
Emocionado, Ribeiro admitiu conhecer o esquema mas negou ser o “cérebro” da operação, atribuindo esse papel ao então dono da W52-FC Porto. “O meu único erro foi saber o que se passava e não ter dito não. Dependia economicamente do cargo”, afirmou.
Ribeiro assegurou que nunca forçou ou incentivou ciclistas a usar substâncias dopantes, mas confirmou que os atletas o procuravam para perguntar como poderiam dopar-se sem serem detetados. “Nunca me senti um criminoso, mas sim um fraco por ceder”, declarou, pedindo desculpa à sociedade e aos atletas.
Esquema financiado e regular
Segundo o ex-diretor, entre 2020 e 2022, Quintanilha financiava o doping com pagamentos mensais aos ciclistas, disfarçados como “ajudas de custo fictícias”, como quilómetros ou despesas de almoços inexistentes. O dinheiro era usado para adquirir substâncias dopantes online, em farmácias ou por outros meios.
Ribeiro apontou que toda a equipa sabia da existência de doping e de quem o financiava. “Adriano Quintanilha gastava milhares de euros para patrocinar essas práticas”, sublinhou, referindo ainda que o antigo patrão o pressionou três vezes a assumir toda a culpa, em troca de 2.000 euros mensais durante dois anos, oferta que recusou.
Ambiente de intimidação
O ambiente na equipa era descrito como “infernal”, com Quintanilha a impor sua vontade com ameaças e humilhações. “O discurso dele era sempre o mesmo: ‘pago para ganhar e ganho’. Ele sabia de tudo e fazia questão de mostrar isso”, revelou Ribeiro, acusando o antigo patrão de querer vencer “a todo o custo”.
O tribunal analisa agora um pedido da defesa para levantamento do sigilo bancário da Associação Calvário Várzea Clube de Ciclismo, que teria sido usada para mascarar os pagamentos.
O julgamento continua…
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