O caso da sem-abrigo que se instalou num banco da Rua António Alegria, em Oliveira de Azeméis, em frente ao antigo liceu, está a indignar a comunidade local.
A onda de solidariedade para com a infeliz senhora e a sensação que começava a criar-se de que não havia quem acudisse ao caso, de que não havia respostas sociais. Certo é, de que esta a senhora não está ao abandono completo.
perante as autoridades locais, ficamos a saber que as instituições agiram prontamente, na tentativa de ajudar a senhora e encontrar solução que a confortasse. Câmara Municipal e Santa Casa da Misericórdia empenharam-se de facto em ajudar e dar boa solução à vida da senhora, de seu nome Carla Alexandra.
Sandra Morais, técnica de ação social da Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis que acompanha Carla Alexandra, pessoa em situação de sem abrigo, garante que todos os esforços estão a ser feitos para prestar ajuda e auxílio mas a senhora recusa a ajuda.
Carla Alexandra chegou a Oliveira de Azeméis em fevereiro, vinda da freguesia de Ossela, naquele concelho. A técnica de ação social da freguesia contactou Sandra Morais para que a técnica de Oliveira de Azeméis pudesse começar a acompanhar o caso. Desde então Sandra Morais com o apoio do provedor da Santa Casa de Misericórdia de Oliveira de Azeméis, Vítor Machado, têm encetado esforços permanentes para alojar e criar condições para Carla Alexandra.
A história repete-se mensalmente. No início de cada mês Carla Alexandra procura Sandra Morais para que possa ir ao banco levantar a pensão de inserção social. “Como perde de forma constante os documentos de identificação, o banco liga-me para eu comparecer sobe pena da Carla não conseguir levantar o dinheiro”, adiantou Sandra Morais. Inicialmente parte do valor da pensão era usado para financiar o alojamento disponibilizado. Em julho, Carla Alexandra assinou um termo de responsabilidade em que declina toda a ajuda e passa a receber o valor da pensão na íntegra. «Não foi por isso que nos deixámos de preocupar e tentar ajudar”, garantiu Sandra Morais.
A técnica da Misericórdia de Oliveira de Azeméis esclareceu todos os locais que foram colocados à disposição da Carla Alexandra, senhora em situação de sem abrigo que ao longo dos últimos meses tem pernoitado na rua António Alegria em Oliveira de Azeméis. Desde essa data ficou instalada na Pensão Anacleto, em Oliveira de Azeméis, mas foi expulsa a 23 de março devido a condutas impróprias dentro das instalações. No dia seguinte a 24 de março, foi instalada no Hostel Moínho Garcia no Pinheiro da Bemposta. No mesmo dia é expulsa, novamente por conduta imprópria e falta de cuidados com a higiene. Enquanto não foi encontrada uma alternativa, Carla dormiu num gabinete nas instalações da Santa Casa da Misericórdia. No dia 28 de março deu entrada no Centro Alojamento Temporário para Passantes e Sem Abrigo (CAT) da Cruz Vermelha em Águeda. Saiu no dia 11 de abril por estar alcoolizada. De seguida foi alojada em Abrantes nas instalações da Comunidade Terapêutica João Guilherme- Projeto Homem. Tentou fugir duas vezes, mas sem sucesso. Até que a 3 de junho conseguiu sair. Passado uma semana o Hospital de S. Sebastião em Santa Maria da Feira entrou em contacto com a Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis a anunciar que Carla Alexandra estava hospitalizada. A 15 de junho e com o apoio da câmara municipal é alojada numa casa em regime de coabitação. Saiu a 4 de julho por constantes desentendimentos com a outra inquilina. Até que a 11 de julho assinou um termo de responsabilidade em que recusava qualquer tipo de ajuda. No dia 20 de outubro e perante as condições atmosféricas adversas, Sandra Morais técnica da Santa Casa com o apoio do provedor Vítor Machado decidiram criar um espaço dentro das instalações da Santa Casa da Misericórdia. Foi instalada no mesmo dia. No dia 21 voltou a pernoitar fora, por opção. Desde então pernoita nas instalações da Santa Casa da Misericórdia. Contudo, Sandra Morais revelou que não tem sido uma estadia fácil devido ao “comportamento inadequado, motivo pelo qual foi expulsa de todos os alojamentos que lhe arranjámos”.
Sandra Morais tem garantido o acompanhamento médico de Carla Alexandra. Teve consultas de psiquiatria no Hospital São Sebastião que diagnosticaram que Carla está em posse de todas as suas faculdades. Foi acompanhada pelo serviço de urologia do Hospital de S. Sebastião e de Neurocirurgia do Hospital de Santo António no Porto. Para novembro estão agendadas consultas de perícia psiquiátrica e de neurocirurgia a fim de ser atualizado o seu estado clínico.
No dia 11 de julho Carla Alexandra, dirigiu-se à Santa Casa da Misericórdia. Sandra Morais, técnica de ação social responsável foi confrontada com acusações de apropriação indevida de parte da pensão recebida por Carla. O valor era até então dividido. Uma parte estava destinada a colaboração com os custos de alojamento. O restante era entregue à Carla para uso pessoal. Foi então que Carla vincou a posição de posse do valor total da pensão, assinando um termo de responsabilidade em que declinava toda e qualquer ajuda por parte da instituição.
Segundo a lei, não existe qualquer fundamento legal para que a câmara municipal ou outra entidade possa atuar e colocar fim a esta situação. Se a pessoa em questão fosse considerada psicologicamente inapta, qualquer familiar ou o próprio Ministério Público poderia intentar um ‘acompanhamento maior’. Nessa situação seria nomeada uma pessoa que seria responsável por todas as tomadas de decisão no que que à pessoa em situação de sem abrigo diz respeito.
Sandra Morais, técnica de ação social da Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis que acompanha a sem-abrigo relata uma postura hostil e de rejeição a qualquer ajuda: “Torna-se agressiva e acusa-me de a estar a roubar. Só a meio do mês, quando lhe falta dinheiro procura ajuda com a alimentação. Por vezes aparece para tomar banho. Alimentação não aceita pois diz que tem um casal amigo que lhe dá comida. Sempre lhe disponibilizámos comida, roupa lavada e possibilidade de tomar banho”.
Também a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis já se pronunciou sobre o s caso manifestando sobre a intensidade com que se tem tratado o problema e a procura constante de soluções.
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