Se estivesse vivo, António Maria de Matos, conhecido como Tony de Matos, teria comemorado este sábado o seu centésimo aniversário. O nome pode não ser familiar para muitos, mas ao se mencionar Tony de Matos, a história toma outra forma. A sua música atravessa gerações, e ainda hoje, tanto os mais velhos quanto os mais jovens cantam clássicos como “Cartas de Amor” e “Só Nós Dois”.
António Maria de Matos nasceu a 28 de setembro de 1924, no Bairro das Fontainhas, a freguesia do Bonfim, na cidade do Porto, fruto do relacionamento da atriz Mila Graça (Camila da Graça Rodrigues Frias) e do pai António Júlio de Matos. Desde cedo, Tony entrou em contacto com o mundo artístico, não só pela sua mãe, que foi parte da Companhia Rafael de Oliveira, mas também pelo seu padrasto, Afonso de Matos, que era diretor artístico do Teatro Desmontável.
Desde jovem, Tony começou a destacar-se ao interpretar “Cartas de Amor” num clube portuense, ganhando popularidade e caminhando para uma carreira promissora. “Sou fadista a meu modo”, dizia ele em entrevista à “A Voz de Portugal” em 1954, sublinhando a sua abordagem única à música, que misturava o fado com outros estilos.
A carreira de Tony de Matos ganhou novos horizontes em 1945, quando se estreou na Emissora Nacional. Três anos depois, por intermédio do fadista Júlio Peres, fez a sua estreia no famoso Café Luso, em Lisboa, considerado na época “a catedral do fado”. Em 1950, gravou o seu primeiro disco em Madrid, onde “Cartas de Amor” se tornou um grande êxito, seguido por outros sucessos como “Trovador”, “Ao Menos Uma Vez” e “A Lenda das Algas”. Em 1952, ele também se aventurou no teatro de revista, estreando-se em “Cantigas ó Rosa”.
O cinema não ficou de fora da sua trajetória, com o seu primeiro filme, “A Canção da Saudade” (1964), onde interpretou o tema “Só Nós Dois”. Ao longo da sua carreira, participou em vários outros filmes, como “Rapazes de Táxis” (1965), “Bonança & C.a” (1969), “O Destino Marca a Hora” (1970) e “Derrapagem” (1974).
Na década de 1960, Tony de Matos tornou-se uma das vozes mais populares da música portuguesa, sendo o artista que mais discos vendeu, logo a seguir a Amália Rodrigues. Um disco com as canções “Só Nós Dois”, “Procuro e Não Te Encontro”, “Vendaval” e “Lado a Lado”, gravado originalmente no Brasil, tornou-se um grande sucesso em 1962.
Após o 25 de Abril, Tony viu-se forçado a residir nos Estados Unidos, devido à associação da sua música com o antigo regime. No seu regresso a Portugal, o artista, aclamado como “o cantor romântico” da música portuguesa, foi agraciado com dois prémios Imprensa – um como cançonetista e outro como fadista.
O seu último espetáculo ocorreu em novembro de 1985, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Tony de Matos faleceu a 8 de junho de 1989, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, após uma delicada intervenção cirúrgica.
Tony de Matos deixa um legado indelével na música portuguesa, com canções que continuam a ressoar nos corações de muitos, mantendo viva a sua memória e influência na cultura musical do país. Neste centenário, celebramos não apenas um grande artista, mas também um ícone que uniu gerações através da sua voz e do seu talento.
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